Vocês fizeram o ensino médio? Se formaram? Como foi a experiência de vocês?

Olá, me chamo Fernanda, fiz 18 anos esse ano, em setembro, desisti da escola e queria saber a experiência de vocês com o ensino médio.

Eu sempre consegui lidar com a escola até o 8º ano do fundamental, apesar de não ter boas notas e dificuldade com aprendizado. Uma parte do motivo disso é eu ter passado pelo menos 2 anos e meio em um reforço escolar terrível, tal qual uma mulher, nem um pouco estável mentalmente, “ensinava” quem frequentava aquele lugar, gritava com as crianças, batia, humilhava, ofendia, etc… Nunca aconteceu algo sério comigo, por medo de tirar as duvidas que tinha dos assuntos e atividades, e ela acabar fazendo algo comigo, então só tentava ler sozinha e aprender sozinha. Meus pais não queriam me tirar, e até queriam me punir por não querer ir, então acabei continuando até perceberem que não era um lugar bom pra mim.

Eu continuei indo a escola, entrando em recuperação todos os anos, mas passava, até chegar a pandemia do Covid-19, eu não me lembro exatamente como era, mas acho que eu não tinha compromisso em estudar, e não me importava com as aulas, muito disso porque não reprovariam ninguém, então acabei ficando um bom tempo sem estudar, talvez uns 3 anos no total. No meio da pandemia, acabei me mudando de cidade com minha mãe, e indo pra uma escola nova, conheci as pessoas da minha turma pelo app que usavam pra dar aula, fiz alguns amigos. Alguns meses antes da pandemia começar a melhorar e o ano acabar, acabei me assumindo trans, e apartir dai, minha vida social piorou muito, meus pais não aceitavam, principalmente meu pai, “amigos” que fiz, falavam coisas ruins sobre mim, perdi amizades, me sentia muito insegura, sobre minha identidade e relações sociais.
No ano seguinte, meus pais me matricularam na mesma escola, escola essa que as mesmas pessoas que arrumavam confusão comigo estavam, e que sabiam que eu era trans, e usaram isso pra mexer comigo. Me sentia isolada, não tinha amigos da mesma sala, a coordenadora não queria me trocar de sala, mesmo explicando que os únicos amigos que tinha, eram da outra turma.
Por ter sido motivo de chacota, ter dificuldade com o aprendizado, não ter conseguido fazer nenhum amigo e só ter os poucos que me restaram, eu acabava indo pra escola só porque minha mãe me obrigava, mas não fazia nada, só ficava mexendo no celular e ouvindo musica, esperando dar o horário pra voltar pra casa, até que um dia eu não quis mais ir, minha mãe brigava, mas uma hora ela acabou deixando, e partindo dai, minha saúde mental acabou piorando bastante, desenvolvi depressão e tinha uma ansiedade muito forte, acabei parando de falar com os amigos que fiz, não saia de casa, vivia jogando e consumindo pornografia o dia inteiro no pc, foi apartir desse ponto, que me tornei hiki.
Fiquei nisso por quase dois anos, sofria abusos por parte da minha mãe, mas não vou me aprofundar, ela me expulsou de casa e acabei indo morar com meu pai, que me obrigou a ir ao colégio, mas não conseguia me encaixar, não me sentia bem no ambiente, não fiz amigos, não aprendia direito, odiava aquele lugar, consegui fazer um ano, só não reprovei porque passei no conselho de classe. No ano seguinte (esse ano), meu pai me matriculou em uma escola diferente e em um horário de aulas diferente, pedi isso a ele, mas mesmo assim, me sentia da mesma maneira, até que há alguns dias, falei pro meu pai que não iria mais para a escola, que não gostava do ambiente e que eu não queria mais ir, e que nunca mais vou, que vou terminar o ensino médio através do EJA EAD, continuar estudando pro curso de segurança cibernética que faço de casa, e que planejo fazer faculdade, me formar e trabalhar na área de T.I.

Oque vocês acham dessa decisão? Como foi o ensino médio de vocês?

3 curtidas

Nossa sinto muitíssimo por todo esse caos e trevas pelo que vc passou/passa… apesar de ter se assumido hiki vc parece ser muito segura de si! Eu completei o ensino médio normal, apesar dos momentos humilhantes e de me trancar no banheiro no momento que chegava pra chorar… nada de grave aconteceu também (na escola). Mas eu praticamente rezava pra ter aula no fim de semana, até chegava a inventar testes e seminários só pra não ter que ficar em casa ou pior, ter que ser levada a tira colo pra qualquer lugar que minha vó quisesse ir (isso qnd ela não queria ir e colocava a culpa em mim, dizendo pros outros que eu tava doente ou tinha me “rebelado”). Nunca passou pela minha cabeça ir pra faculdade, mesmo tendo consciência na época que eu era somente depressiva eu já sabia que seria intolerável pra mim passar por essa experiência com altas doses de insegurança e possivelmente humilhação por não saber lidar com várias situações ou agir como pessoa adulta num mundo de adultos tóxicos. Hoje eu faço EAD por vergonha na cara mesmo só pra ter alguma formação ou sla… se serve de consolo eu acho que vc está no caminho certo por saber exatamente o caminho que espera trilhar #força

1 curtida

Achei o seu relato brutal demais. Nossas lores são quase que parecidas em alguns pontos, pois eu também deixei de me importar com a escola na pandemia, não terminei o ensino médio e não tenho amigos irl, só online.

Eu tinha te falado em outra conversa das opções (eja e ecceja). Depois de ver o seu relato, eu te recomendaria: encceja.

Se você já tiver uma facilidade de estudar sozinha e também o ambiente onde você viver não tiver tanto barulho, eu acredito que você ficaria melhor com o ecceja. Com ele você pode estudar em casa, não ter que lidar com os outros, termina seus estudos mais rápido e finalmente começa a estudar T.I de uma maneira mais rápido do que se você fosse fazer o EJA.

Enfim, espero que fique bem e que consiga terminar o gore dos estudos :handshake:

1 curtida

Eu acho q vale a pena tentar o EJA presencialmente. Ensino à distância é muito precário e, além disso, a sala de aula com adultos pode ser menos hostil em alguns aspectos.

Espero q dê tudo certo pra ti!!!

Abraços

2 curtidas

Não sei se um relato normal te conforta (farei o meu logo menos), mas seu caso foi muito extremo, pandemia + preconceito, fora que criança costuma ter a opinião dos pais que deve demorar mais alguns anos pra não ser quase sempre negativa a coisas de gênero e sexualidade.
Hoje em dia eu tenho 24 anos, sou hómi, lá na época do fim do fundamental pro EM eu sofria bullying por ser gordo e por ser BV (clássico), o segundo me incomodava mais kkkk me fez inventar gente que não existia e até escolher uma aleatória no facebook uma vez pra falar que tava namorando, obviamente nunca colou e até sofri mais por isso, mas é o quão longe eu fui pelo incomodo que sofria. Eventualmente eu fiquei magrinho, namorei e não curti tanto, a gente passa muito tempo em contato hoje em dia (2016), não acho que seja muito saudável, ainda mais sendo adolescente, ter uma namorada(o) é quase um espírito obsessor, ou pelo menos foi assim na época, desde então estive bem sozinho.
De 2014-2016 eu estudei na rede objetivo, bem tryhard pra quem quer ser alguém na vida, o detalhe é que meus pais nunca me contaram isso e nem me instruíram muito bem pra eu ter isso em mente, só me tacaram lá achando que magia ia acontecer. Depois de repetir o 1º ano eu mudei de escola na metade de 2016, fui pra uma noturna, também era particular, mas era bem mais de boa e acho que lá moldou o que eu sou hoje, uma pessoa completamente na minha. No objetivo tinha a questão do bullying, da pressão, da reprovação, fofoca insana… nessa outra escola eu descobri que eu simplesmente podia ficar de boa, quieto e tranquilo. Apesar de que estar respondendo esse post hoje possa ser um traço que ficou comigo de ser social no objetivo kk…
Agora uma coisa que completamente tirou meu chão foi a faculdade, provavelmente o lugar mais assustador que eu já pisei na vida, você não conhece ninguém e se por acaso tiver alguém que você conhece já não deve estar mais como conhecia kkkkk digo isso que fui pra um curso de fazer jogo ainda, não tinha uma pessoa na mesma vibe que eu lá, depois de desistir tentei de novo com geografia e aí sim a bolha estourou de uma forma incrível, 100 vezes mais assustador e olha que foi EAD da pandemia. Acho que o pegado é a sensação de que ninguém parece estar ali de fato quando você está interagindo com o ser, sei lá, como disse extremamente assustador, demasiado estranho a faculdade.