Brisa solta e etc

Alguém mais odeia gente que Romantiza cultura japonesa e vive consumindo anime sem parar?

Para japoneses, assim como para os países ocidentais dominantes, somos indesejáveis e apenas isso. Não consigo entender esse amor todo.

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eu não consigo odiar, querendo ou não, eles são em certa medida, “vítimas” do soft power japonês, os animes e toda a cultura pop japonesa foram criadas pensando no ocidente mesmo, então é quase inevitável haver esse amor todo.

e também vamos ser sinceros, não existem bons “contrapontos” culturais no ocidente, produzindo cultura pop de qualidade para adolescentes/jovem adulto, nas últimas décadas, a qualidade caiu muito e naturalmente, o japão e agora a coreia também estão ocupando esse espaço.

Eu nunca romantizei cultura japonesa, apesar de ser viciado em animes e mesmo que romantizasse, o anime é um péssimo exemplo, seria melhor ver doramas e filmes japoneses atuais, não só os clássicos, até mesmo seguir celebridades no Instagram. Isso é apenas cultura popular, produtos da indústria cultural que pouco me interessam e não são muito diferentes do resto do mundo. Nem mencionei arte, arquitetura e literatura, que são a VERDADEIRA CULTURA japonesa, apenas esse aspecto do Japão me interessou, bem mais do que pegar metrô lotado, comer ramen e comprar tranqueiras em Akihabara. Eu penso sobre o Conto de Genji, as obras de Natsume Soseki, Kawabata, Mishima, Osamu Dazai e todos aqueles outros personagens de Stray Dogs. Eu penso nos templos antiquíssimos de Kyoto e nas pinturas de Hokusai, até nos filmes de Kurusawa, nos arranjos de flores, nos kimonos artesanais e nas cerimônias do chá. Ainda nem falei do Zen e da escola de Kyoto (filosofia), do teatro Kabuki, Noh e Bunraku.

Viver em Tokyo para mim não é diferente de viver em Londres, Paris ou Nova York, a globalização é implacável, nunca tive vontade de visitar o Japão, exceto museus e prédios históricos, principalmente Kyoto, a velha capital. Eu sempre achei a definição de CRINGE esses turistas ocidentais no Japão que acham que foram transportados para um anime no momento em que desembarcam em Haneda, analogamente muitos gringos desembarcam no Galeão e acham que no Brasil é só festa, futebol e mulher seminua. Eu já sei como é viver em uma metrópole como São Paulo, em Tokyo e Osaka só mudam as placas, interessante apenas seria tirar fotos no período noturno e explorar os becos (sem ser assaltado) como o Baka Gaijin, além do claro constraste cultural.

Eu não gostaria de viver em uma kitnet de 12 metros quadrados e as minhas chances de conseguir um emprego decente seriam bem baixas. Muito piores são os caras que acham que vão passar o rodo no Japão, ter um harém de várias waifus e viver todo dia um romance escolar, talvez se você for loiro e alto? Não consegue ninguém nem no seu bairro, imagine no outro lado do mundo, as japonesas são bastante frias e fechadas com os próprios japoneses, imagine com o gringo médio, não falam inglês, sem contar que acho a grande maioria bem feia, a japonesa média com certeza não parece uma idol. A questão do racismo é real, apesar de parecer estar em queda, mesmo falando fluente e crescendo no país eu sempre seria estrangeiro, jamais pertenceria àquela sociedade e os meus filhos poderiam ser mal vistos por serem mestiços, o mundo também não precisa de mais um Elliot Rodgers. Em resumo, as pessoas não só desejam pertencer a uma ficção como nunca pertenceriam ao real.

Sobre o anime, a forma é japonesa, mas o conteúdo, na maioria das vezes, é ocidental, mesmo que uma interpretação distorcida análoga ao orientalismo europeu. Japas são impressionados com idade média, rococó, era vitoriana, cowboys, piratas, mitologia grega e nórdica, gnosticismo, cristianismo, Goethe, Dante, amam música clássica. Eles conseguem fundir tudo isso com folclore, paisagens e valores japoneses, maravilha da globalização. Alguns animes eu aprecio pela estética/narrativa ou por puro entretenimento, mas reconheço que a maioria é um lixo decadente. Eu aprecio a cultura tradicional, não a construção midiática e muito menos a realidade cotidiana, mas sei que nunca farei parte dela e só posso observar de longe, não é algo que envolve meu ser e se manifesta através de minha vivência.

Disciplina, honra, hierarquia, resignação, persistência, coletivismo. Só li um livro sobre a sociedade japonesa: Shadows of the Rising Sun do Jared Taylor, americano que cresceu no Japão, porque seus pais eram missionários cristãos.

Mishima e Dazai são autores q só trouxeram a prosa intimista e o Naturalismo europeu pro Japão, mas tudo bem eu entendi seu pontokk.

Eu não ligo pra “cultura tradicional” japonesa ou qualquer q seja essa tal tradição. A ideia de um povo e cultura japonesa homogênea é bem recente e beira as ideias de Estado-nação do ocidente.

Um dos primeiros animes foi feito durante a SGM, o nome é Momotaro, mostra bichinhos fofinhos bombardeando Pearl Harbor. Foi uma resposta do Japão às animações da Disney, propaganda de guerra. Animação requer bastante capacidade tecnológica e industrial, principalmente nos seus primórdios, talvez hoje seja mais fácil com softwares. Por isso, países industrializados como Coreia, Japão e futuramente a China vão dominar esse mercado, icônico o gráfico da queda do consumo de energia no Japão coincidindo com o fim da era de ouro da animação (1990-2010). A explicação de que o Ocidente é incapaz de produzir narrativas de qualidade para o público jovem é uma meia verdade, não falta inspiração, falta capacidade técnica/industrial.

Eu não gosto muito das produções coreanas, vi Solo Leveling e achei bem sem alma, tirando as luta épicas não tenha nada para oferecer, os personagens são planos e tudo não passa de uma grande punhetação, uma mera fantasia de poder e riqueza, não possui nenhuma mensagem elevada. Mais uma reprodução do mantra neoliberal de ralar na solitude e construir um exército de minions, com dinheiro e shape você com certeza poderá realizar todos os seus desejos, do nada uma mulher vai aparecer na sua cama, só persistir no grindset. Eu não senti nada vendo Solo Leveling e nem The Beginning After the End ou Tower of God, definição de medíocre e previsível, dos animes coreanos que eu vi Lookism foi sem dúvidas o melhor, apesar de ser power fantasy, por criticar de certa forma essa lógica, Frieren e até mesmo um shonen genérico conseguem ser bem mais cativantes. Bem sem graça quando não há drama, nem amadurecimento e nem mensagem, por mais simples que sejam, é só a mais pura punhetação. Um ponto para os coreanos é que eles não possuem tantos fetiches bizarros, maneirismos e esquisitices como os japas, sua mídia é mais parecida com a ocidental.

Eu sei que esses escritores são modernistas, mas eu incluo em ALTA CULTURA™ da mesma forma que Machado de Assis ou Mário de Andrade, apesar de terem elementos estrangeiros eles ainda preservavam algum ethos nacional. Negar isso seria o mesmo que afirmar que Machado de Assis não é um escritor consagrado ou tradicional, porque foi influenciado por um bando de franceses em vez do pajé de uma tribo indígena. Discordo que a ideia de cultura/povo nipônicos seja uma construção recente, apesar de eles terem sido bastante influenciados pela China.

Amigão vc tá fundindo dois conceitos diferenteskkk “cultura tradicional” e “alta cultura” não são a mesma coisa. Mesmo q vc pense assim, isso não tava presente no seu primeiro comentário.

O arquipélago japonês sempre foi palco de relações entre grupos austronésios do pacífico e grupos da Ásia continental. Esses contatos não resultaram em um identidade cultural japonesa bem definida, e sim algo fragmentário e fluido, msm q sob domínio de regimes políticos exteriores mais centralizados baseados na exploração da terra e de camponeses. Hj ainda existem os chamados grupos indígenas no Japão, como Ainus, Azumis e outros q lutam para se defender contra homogeneização e submissão à identidade nacional.

Eu gosto do Japão.

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Não consigo não romantizar. Amo animes, Jpop, culinaria japonesa (ao menos a parte que tenho acesso), citypop, haicai, a arquitetura e estética, zen budismo, etc. Meu sonho é morar no Japão, mesmo que não me aceitem e eu tenha que viver sozinho lá.

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acho que isso vai muito mais a fundo do que um bando de adolescente paga pau de cultura asiática. eu curto bastante a cultura asiática, mas isso não se resume apenas a animes ou jpop generico. a literatura e toda a história do Japão e Ásia num geral é interessante. Se formos falar sobre o racismo que ocidentais sofrem lá, também precisamos dar emdase no ponto de que, em todo país, sempre haverá racismo. tirando que, todo ano vem uma pira toda em volta de adolescente edgy pegando uma cultura e esteriótipando ela e apagando seu contexto por trás. (como estão fazendo com a Rússia recentemente.)

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O racismo no Japão não é necessariamente contra pessoas do ocidente, mas contra pessoas que não são brancas ou japonesas. Uma pitada de Eugênia e teorias raciais no Japão com uma outra pitada de ocupação estadunidense e ocidentalização dizem muito sobre isso.

A romantização q eu comentei vem da indústria cultural e softpower japonês msm. É ótimo q vc goste de estudar sobre culturas asiáticas (qualquer q seja) contanto q evite anacronismos e tals.

Meus interesses de estudos são algumas regiões de África, não manjo de Japão pré-imperialismo nem qualquer outro canto da Ásia.