Para continuar vivendo onde estou, preciso pagar por isso. Se tento me relacionar com as mulheres que encontrei pelo caminho, também preciso desembolsar dinheiro — seja para ter algum tipo de relação íntima, seja para receber fotos ou vídeos. Quando busco desabafar, recorro a serviços online de “roleplay de amiga ou namorada”, pois até mesmo conversar com alguém hoje em dia virou algo que exige custo. Às vezes, tento retomar antigas amizades, mas percebo que até nesses casos preciso arcar com algum tipo de gasto para manter o contato.
Parece que só sirvo para alguma coisa quando posso oferecer algo material em troca. Relações sinceras, espontâneas, onde existe afeto ou interesse real, tornaram-se raras ou inexistentes.
Todo final de semana, sento-me sozinho num banco de uma praça movimentada. Estou sempre bem vestido, mas ali permaneço, bebendo em silêncio, apenas observando as pessoas indo e vindo. Esse ritual é, na verdade, um pedido de ajuda silencioso, uma tentativa tímida de mostrar que não estou bem. Mas ninguém percebe, ninguém se aproxima. Nada acontece, como sempre.
De vez em quando, essa situação me revolta. Sinto raiva e me agarro à ideia de que sou melhor do que os outros, como se isso fosse uma forma de defesa para suportar o vazio. Me vejo como alguém injustiçado pela vida. Mas logo corto esse pensamento pela raiz: lembro a mim mesmo que não conquistei nada, que não sou melhor do que ninguém, e que, sinceramente, não me destaquei em nada até agora.
O problema é que essa revolta está crescendo dentro de mim. Fico cada vez mais indignado com a frieza das relações e, aos poucos, sinto vontade de descarregar essa raiva nos outros — seja em palavras, seja em atitudes agressivas. E o que mais me assusta é perceber que esse ódio está aumentando. Não sei onde isso vai dar, e isso me preocupa.