Cada dia desprezo mais o “capitalismo” contemporâneo
Será uma longa história, mas já deixo claro que não será sobre exploração do trabalhador ou ressentimento por não ser rico.
Capitalismo para mim é um sistema sociopolítico no qual o poder financeiro (pleonasmo) é hegemônico, quem governa é quem possui os valores monetários em si e não propriedades ou exércitos. Até que ponto um bilionário é submisso ao Estado, até que ponto o Estado é submisso a um bilionário? O lucro é privado e as perdas socializadas. Nunca geraram inovações para a indústria, nunca pisaram em uma empresa com filiais em todo o mundo, porém os acionistas sempre coletam suas partes, o caminho para a independência financeira é ser um dono ausente e poder mover o capital para qualquer lugar. Por que esse pessoal “liberal” é tão obcecado com o MERCADO (meia dúzia de pessoas na Faria Lima)? O mundo não precisa da filantropia dessas pessoas: enquanto George Soros ainda está focado no jogo das ONGs e fundações, Elon Musk controla a rede social mais influente, o maior Coliseu Político do mundo.
Eles realmente acham que capitalismo é algum tipo de magia e o mundo seria perfeito sem intervenção estatal, porque a economia possui leis imutáveis baseadas na natureza humana e não é apenas um contexto histórico. As pessoas pensam que capitalismo e avanço tecnológico são a mesma coisa ou que o capitalismo gera avanço tecnológico, quando são os avanços, por gerarem surplus, que aumentam o lucro e expandem a economia, os avanços ocorrem apesar do “capitalismo”. Praticamente tudo que realmente importa foi feito pelo Estado ou por NERDS e não por empreendedores, isso é ocultado por dois motivos: chutar a escada, não podemos revelar aos outros a causa real do sucesso; ou empoderar o capital privado diante do Estado.
Quanto mais o capitalismo aparece como uma farsa e a escassez aumenta, vias tradicionais: escola → universidade → bom emprego passam a serem questionadas. No entanto, essa escassez também é uma farsa, criada para que velhos lucrem um pouco mais ou pelo ambiente virtual, no qual predomina a ostentação. Sem nenhum senso maior de comunidade, buscamos apenas extrair o máximo que pudermos como pudermos, o meio digital é perfeito para ser um pirata: saquear tesouros e usar mulheres. Os gângsters da atualidade não precisam andar armados e, com a emergência da web economia da distração, nunca tiveram tantas oportunidades para levar vantagem. Os casinos e as apostas são online, anúncios por toda parte, conteúdo gerado por IA, conteúdo gerado para enganar e distrair os normies, pornografia/onlyfans, até Milei e Trump já deram golpe com crypto. Tomem cuidado com essa nova elite empreendedora, cada dia estará mais poderosa, seja em Dubai, seja em Balneário Camboriú.
Eles capitalizam no entretenimento para promoverem seu consumo conspícuo, porque são incapazes de realmente inovar ou de almejar por algo maior, são os abutres que se alimentam da carcaça de uma civilização hedonista e egoísta. Não estou moralizando, as pessoas que enriquecem esses gângsters merecem tudo de ruim e conseguem ser ainda piores. Os filhos mais novos de um Estado sem missão, que não deseja construir ou inovar, apenas fazer o que é mais lucrativo (mais viciante). A financeirização sempre será uma aposta no império, sem o poder imperial a competição entre as nações é mais acirrada e tratar a economia global como a economia nacional, se especializando no que é mais lucrativo, é impossível. Quantos membros dessa nova máfia possuem contatos no exterior, ela difere completamente dos oligarcas do passado, exatamente por não acreditar no sistema e usar o cinismo para extrair recursos direto da fonte: o desejo e o vício humanos. Talvez eles causem tanto dano para o Estado a ponto de justificar uma repressão mais severa, caso contrário a maior parte da população seria escravizada e submetida a condições deploráveis.
Eu sempre percebi meu NEETismo como uma revolta contra esse sistema e não sou diferente de um novo gângster que busca apenas extrair o necessário para seu hedonismo. Infelizmente não há nada no mundo real que excite, por isso passo o tempo todo vendo anime ou lendo, qual a diferença disso para drogas e sexo casual? Talvez seja pelo fato de usar drogas em festas e transar nos motivar a participar da sociedade, o hedonismo é algo que une, mesmo que temporariamente, em vez de separar. Também penso que até essa sensação de tédio e apatia seja fabricada pelo próprio sistema, pela mídia que nos bombardeia desde a infância: você é o escolhido e especial ! Nossos tataravôs viviam vidas bem mais chatas que as nossas, sempre imersos em coisas mundanas, e mesmo assim não tinham crises existenciais. Ninguém é apático por não possuir ambições, todos as temos, as pessoas são apáticas, porque suas ambições são tão abstratas, distantes e complexas que nada poderá satisfazê-las. A imaginação é uma armadilha, o entretenimento nos causa apatia e a apatia exige mais entretenimento, a imaginação mais escraviza do que liberta os homens, exatamente pelo fato de nem todos serem dignos dela. No fim, o único sentimento que realmente me comove é a estoica melancolia, de saber que nossos sonhos nunca vão se realizar e mesmo assim sonhar, porque sonhar é humano.
O capital é a serpente que nos vende sonhos onde pesadelos espreitam. A desigualdade sempre irá existir, o que me frustra é saber que ela ocorre por razões tão patéticas. Não há propósito mais nobre do que ser lembrado por seu povo, isso é diferente do jogo de status nas redes sociais, porém eu não tenho um povo, sinto que a sociedade não compartilha meus valores e todos ao meu redor sempre serão estrangeiros, eu sou Gregor Samsa, a metamorfose foi eu que sofri e agora não pertenço a lugar nenhum. Nós mudamos para alcançar o poder ou apenas nos tornamos quem realmente somos? A angústia sempre assombrará o jovem introspectivo, porque abandonar a introspecção é abandonar seu ser, um ser imperfeito. Preencho minha consciência com castelos de areia, porque nada fora dela poderei moldar tão facilmente e quem não molda nunca existiu. Na verdade, a angústia nunca quis me assombrar, era apenas mais um espectro em busca de companhia, atraído pela entidade fantasmagórica que eu sou.
O lazer, antes privilégio das elites, agora é bastardizado (meu anglicismo) e totalitário, cada vez mais esteticamente pobre e com apelo instintivo. Como posso rejeitar plenamente o consumo conspícuo se nunca dele desfrutei? Deveríamos tratar o entretenimento como adrenalina e não como anestesia. Apenas os momentos em que nos sentimos vivos e poderosos valem a pena, mesmo que sejam impossíveis sem dias de monotonia, trancado no quarto há 5 anos, não sou a melhor pessoa para afirmar algo assim? Novamente, a angústia não me assombra, porque apenas fantasmas se deparam com fantasmas, eu não deveria pensar sobre tudo isso e apenas ser engolido por coisas mundanas? Sempre tentar definir meus ideais me impede de viver conforme eles? Algum dia ainda pertencerei a alguma coisa, mesmo que seja apenas a um poema que eu criei.