Título parece confuso, a maioria das palavras possui a mesma repetida

Veritas e Vanitas

Novamente mergulho em mim mesmo, mas sempre dizem que não conseguimos mergulhar fundo o bastante. Estive sem inspiração, comecei a ver Gundam e esqueci de tudo, dos fantasmas que assombram minha consciência, seus sussurros são a mais bela sinfonia. Concordo com Zizek, escrevo para me encontrar, mas apenas tento fugir de mim mesmo, quanto mais me aproximo de quem sou, mais me afasto. Não seria melhor dividir cada instante de minha consciência em um ser independente? Se cada aspiração, angústia e sonho se tornasse uma pessoa, um planeta seria povoado, só seria livre se meus miolos manchassem as páginas de um livro: cada neurônio um personagem, cada sinapse uma história!

Eu sei que essa vida sempre me trouxe desgosto e a renunciei, pois não gostaria de compartilhá-la com as pessoas ao meu redor, não bebo da mesma fonte que a ralé, eu não quero um trabalho de verdade, eu não quero um relacionamerda: ao andar pelas ruas movimentadas da capital, não vi casais, apenas carcereiros e prisioneiros, não quero reproduzir meu DNA miserável. Em revolta contra tudo, deixo-me ser definido por aquilo que mais desprezo, não deveria ser assim, eu ligo o PC para as vozes pararem de me atormentar. Diante da abóbada estrelada que venero, não posso ser nem mesmo um vagalume e, embriagado pelo feitiço das palavras, tento tocar as estrelas e elas escapam de minhas mãos, todos os dias perco bilhões de sonhos e, por isso, morro milhões de vezes.

Nunca saberei o que é exercer sua vontade sobre o mundo, em meu tosco idealismo, tento ignorar cada átomo que compõe sua estrutura, isso apenas me faz reconhecer um espectro terrível que me separa de meus anseios. Eu pensava que saber que sou um escravo me trouxesse a liberdade, porém a verdadeira liberdade é sempre coletiva, somos náufragos em um oceano de hostilidade ou águias que habitam elevadas altitudes. Meu fluxo de consciência apenas me trouxe inimigos, pelo menos finja que entendeu. Eu deveria virar um escritor de verdade e despedaçar essa figura que tento encontrar, com tantos fragmentos os outros poderão esquecer de mim, desse patético solipsista: só o abismo do eu existe, esse vazio que extirpa o mundo de sentido, apesar de ele fazer sentido para todos.

Nostalgia é o mais patológico dos sentimentos, só os moribundos deveriam contemplar o passado: apenas siga em frente rumo ao triunfo! Nos apegamos a lembranças do passado e a expectativas sobre o futuro, porque não podemos controlar o presente, possuímos apenas o poder das palavras que nos torna demiurgos de incontáveis mundos. Nostalgia é a futurologia dos vencidos e descrentes, eles aspiram pelo familiar e pelo concluído, não só por covardia, mas por contemplarem sua própria inferioridade, nasceram para ser os ventos que arrastam as ondas da consciência e não as tempestades que engolem nações.

Nunca aceitarei essas ruas esburacas e cheias de lixo, essas casas sem reboco, essa poluição sonora e a vulgaridade popular, nunca aceitarei promessas ilusórias de prestígio e riqueza. Por mais que tente afastar as assombrações, seus murmúrios são a joia da minha vida solitária, ouví-las faz eu me sentir fora do corpo, do tempo e do espaço, livre do fardo de um passado, que não passa de uma âncora ao abismo, de um futuro, que nunca se realizará, e, principalmente, de um presente nauseante. Eu nunca poderei fazer parte do sistema, não passo de um alienígena em missão na Terra, não são companheiros, apenas objetos de meus experimentos, torturados em busca de respostas, ao desperdiçar horas em sua companhia temo pela asfixia de minha essência, dissolvida por tantas máscaras.

Porém, sei que eu sou a verdadeira máscara, o único ser que não existe em si, mas possui outros fundamentos para sua existência, o que pensei serem máscaras era apenas partes de mim, que só existem independentemente e jamais poderão de fato se unirem. Nós sempre existiremos para o mundo e não para nós mesmos, os instantes que desprezo são mais reais do que o pássaro que acredita que seu canto irá despedaçar uma gaiola. Eu não posso viver sem a verdade, mas ela não passa da vaidade de alguém que não passa fome, só pode haver emancipação no vácuo interestelar? Eu avanço gradativamente no deserto desde que percebi que o oásis não me pertence, sob o sol escaldante já pensei em abandonar meu camelo, mas minha sede sempre será insaciável. Aqueles que ergueram seus palácios no oásis apenas encontrariam no meu cadáver no deserto mais um slogan, mais uma prova irrefutável de sua virtude, uma fortaleza construída com crânios.

Jamais fundarei nada duradouro, nem mesmo uma linhagem, nem os meus textos fundarão nada duradouro, são folhas que lanço contra o vento. Eu não nasci na posição, nem com o talento e muito menos com a sorte, se no meu mundo há apenas aquilo que considero duradouro, então nunca farei parte do mundo. Eu sou a repetição sufocante e não a diferença que revitaliza a realidade, eu sou o eterno envelhecimento e não o gozo da juventude. Tudo que posso fazer é declarar guerra contra um ser que precisa ser dilacerado em bilhões de partes. Não importa no que acreditamos, quem não vive, não personifica e não incorpora o ideal, estará sempre morto. Não é sobre ter o MINDSET correto, eu também sou corpo e ele está fadigado da repetição, ele anseia pela diferença que destrói qualquer paradigma, não há diamantes nas profundezas dessa mina de carvão.

Eu não tenho seguidores, nem finanças, nem mesmo a inteligência necessária para travar uma guerra total contra a repetição, porque eu faço parte dela e só posso lançar pedras contra um tanque de guerra. Seu calor é congelante, seu amor transborda de ódio e seu acolhimento beira o ostracismo. Algumas palavras mágicas podem não abalar meu espírito, outras o nutrem e outras o arruinam. Como não iniciar uma guerra se ao meu redor só vejo inimigos? Só devo ficar calado, me trancar no quarto e mergulhar no entretenimento estéril? Eu não posso lançar pedras contra tanques de guerra, é por isso que sou devorado pelo abismo da imaginação, o único espaço completamente livre de sua presença, eu os percebo, mas não possuo a inteligência e o exército para alcançar a vitória. A verdade que não confronta a vaidade em todos os âmbitos, torna-se parte dela, por conta disso, minha inércia me torna em um inimigo, o qual precisa ser dilacerado metaforicamente em milhões de personagens, em milhares de histórias.

PS: Último post nesse fórum, começaram a censurar os tópicos.